As Aventuras do Tenente Blueberry. Jean-Michel Charlier e Jean Giraud.

Quem nunca se deparou com algum filme, quadrinho, desenho animado ou música que tivesse o western norte americano como seu tema principal? Com seus cowboys (que nem sempre são cowboys de verdade) fora-da-lei, frutos de uma extrema pobreza desértica, amantes de cavalos, brigões e envoltos em guerras civis que dilaceraram algumas regiões no século XIX (em muitos aspectos se assemelha ao gaúcho da bacia platina aqui na América do Sul), o western, bang-bang ou faroeste (far west), como nós o conhecemos no Brasil, é admiridado e povoa a imaginação de muitas pessoas mundo afora, inclusive este que aqui vos escreve, que lembra-se perfeitamente de quando pequenino se vestir como um cowboy, possuindo uma winchester de borracha, com um coldre, montado em um cavalinho de pau com rodinhas e atirando contra, imaginários, peles vermelha.

O western se espalhou pelo mundo graças ao cinema estado unidense de John Ford, que o transformou em um típico produto americano. A partir, principalmente, da década de 50, a Europa começou a criar histórias de faroeste americano, chegando a Itália a ter o seu próprio gênero, o Western Spaghetti, sendo os filmes de Sergio Leone e fumettis de Tex, criados por Luigi Bonnelli e Aurelio Gallepini, seus grandes expoentes.

É em virtude desta "febre" que em 1963 surge, na França, um quadrinho com este tema para as páginas da revista Pilote n° 210. Sua história se chamava Forte Navajo e girava em torno do tenente Blueberry. Com roteiro do belga Jean-Michel Charlier e desenho do novato francês Jean Giroud (que já havia trabalhado em outra série de western chamada Jerry Spring) , a história ganhou público e recebeu muitos elogios, criando-se assim uma série só sua denominada As Aventuras do Tenente Bluberry. Nesta série, Charlier se mostrou um escritor de muito talento, sabendo conduzir suas histórias com tramas inteligentes que não subestimavam o leitor, dosando momentos de ação com os reflexão, personagens bem desenvolvidos, aspectos históricos apurados, nos mostrando que realmente sabia como usar o que tinha nas mãos.
Já o jovem Giroud, ou Gir como algumas vezes assinava seus trabalhos, mostrava talento para desenhar. Toda uma representação daquele velho oeste, seu solidão desértica, a maneira como ele traça os índios, seus trajes, rostos, a anatomia dos cavalos, especificando tipos diferentes. É quase possível sentir o calor emanando das pradarias, o vento empoeirado batendo no rosto, a fruição é contínua e excitante. Algum tempo depois, Giroud iria se transformar em um tragressor de linguagens (dizem pelos bastidores que isso ocorreu depois de sua primeira viagem com LSD), adotando o pseudônimo de Moebius e criando obras como Aztech, A Garagem Hermética e desenhando a série Incal para Alejandro Jodorowsky (outro gênio do nosso século). Todas elas com desenhos mágicos, herméticos e lisérgicos que ainda influencia toda nova geração de desenhistas (vide Frank Quitely, por exemplo). Mas este é um capítulo a parte


Por estes e outros motivos, a série é cultuada como um clássico não só dos quadrinhos de western, mas também de tudo relacionado a este tema na Europa. O Tenente Bluberry continua até hoje, mas com a morte de Charlier em 1989, seus roteiros ficaram a cargo de Giroud, assumindo assim duas funções e em consequência disso diminuindo o ritmo das publicações. Ao todo já foram quase 40 albúns publicados nesses quase 50 anos, com histórias de Bluberry moço até um Bluberry mais idoso. No Brasil algumas delas foram publicadas década de 70 pela editora Vecchi, no início de 1990 pela editora Abril e um número pela Editora Panini em 2006. Muito pouco para um clássico que merece ter mais oportunidades e espaço em nossa formação.

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